04/08/2011

Entendendo os pré-treinos - Parte 02 - O Efeito vasodilatador

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O efeito vasodilatador é talvez um dos mais proeminentes de pré-treinos de boa qualidade, tornando a arginina (potente vasodilatador) num dos ingredientes principais desses produtos. Embora alguns produtos sejam vendidos como “óxido nítrico” ou NO-, não é propriamente o NO que está sendo vendido, até porque o mesmo é um gás.

O que ocorre é que nosso organismo produz naturalmente o óxido nítrico a partir da L-arginina. Essa reação ocorre nos vasos sanguíneos, no endotélio. Então, a partir do aminoácido L-arginina, é produzido L-citrulina e NO. O NO então provoca um relaxamento, dilatando os vasos sanguíneos e um efeito hipotensor (diminuição da pressão arterial). A título de curiosidade, a descoberta das propriedades do óxido nítrico na década de 80, lhe renderam o título de “molécula do ano” em 1992 pela Revista Science e foi criada uma revista científica somente para a publicação de estudos sobre essa molécula.

Durante o exercício, produzimos naturalmente óxido nítrico pelo estresse de cisalhamento do sangue no endotélio dos vasos sanguíneos. O propósito da suplementação de arginina é fornecer mais reagente para a produção de NO.




Mas, além do efeito visual e hipotensor, qual seria o propósito do uso de L-arginina no que se refere ao treinamento de força?

Segundo Paddon-Jones e colaboradores (2004), a arginina, combinada com a creatina (o que ocorre na maioria dos pré-treinos de qualidade), exerce um efeito benéfico na massa muscular magra. No estudo de Zajac e colaboradores (2010), L-arginina e L-ornitina combinadas elevam as concentrações de hormônio do crescimento e IGF-1 após o treinamento de força exaustivo, além de aumentar a vasodilatação em exercícios onde é provocada uma hipóxia muscular (restrição do suprimento de oxigênio muscular) (Casey e colaboradores, 2010). Álvares e colaboradores (2011) afirmam que, mesmo não havendo um consenso sobre os seus efeitos ergogênicos, a suplementação de L-arginina é bem tolerada por humanos. Em pacientes com doença arterial periférica, a suplementação de 3gr/dia melhorou a velocidade de caminhada nos testes em esteira (Oka e colaboradores, 2005).

Ou seja, há diversos estudos que dão crédito à L-arginina. Todos os estudos científicos igualmente devem ser vistos com olhar crítico, pois todos possuem limitações. Além do suplemento utilizado, há diversos outros fatores a serem considerados. Por exemplo, o protocolo de treinamento. Observem que no estudo citado acima, as elevações de Hormônio do Crescimento e IGF-1 se deram após um treino de força intenso. Logo, o exercício também precisa causar uma alteração no estado de homeostase no organismo.

A qualidade da composição do pré-treino também influencia a absorção da arginina. Na forma L-argina como suplementação (ou seja, de maneira exógena), alguma parte do aminoácido pode ser absorvido pelas células intestinais. Por isso, nas formas AKG, malato, HCl entre outras, o aminoácido consegue passar mais ileso pelo trato gastrointestinal e chegar na corrente sanguínea.

Coadjuvantes da arginina:

Além da arginina, podem ser acrescentados outros elementos para potencializar os resultados.

Citrulina: aumenta a expressão e a conversão de outros aminoácidos em L-arginina;

Ornitina: precursor da arginina, além de aumentar o seu tempo de ação;

Norvalina: inibidor da enzima arginase, aumenta as concentrações de arginina no sangue;

Histidina: potencializa a ligação do NO às proteínas sanguíneas, melhorando sua ação vasodilatadora;

Rutaecarpina: extraído da fruta Evodia Rutaecarpa, é um alcalóide que estimula a produção de NO, além de combater a vasoconstrição causada por estimulantes como a cafeína;

Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo (NAD): uma das principais responsáveis pela conversão de L-argina em óxido nítrico.


Referências:

Álvares TS, Meirelles CM, Bhambhani YN, Paschoalin VM, Gomes PS. L-Arginine as a potential ergogenic aid in healthy subjects. Sports Med. 2011 Mar 1;41(3):233-48.

Casey DP, Madery BD, Curry TB, Eisenach JH, Wilkins BW, Joyner MJ. Nitric oxide contributes to the augmented vasodilatation during hypoxic exercise. J Physiol. 2010 Jan 15;588(Pt 2):373-85. Epub 2009 Nov 30.

Paddon-Jones D, Børsheim E, Wolfe RR. Potential ergogenic effects of arginine and creatine supplementation. J Nutr. 2004 Oct;134(10 Suppl):2888S-2894S.

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